Anima e Animus.
Os termos anima e animus são amplamente conhecidos por aqueles que estudam, ou apreciam, a teoria de Carl Jung.
Para entendermos esses termos é importante lembrar que todos nós carregamos uma quantidade pequena de hormônios do sexo oposto em nosso organismo.
Consciente disso, Carl Jung teve a percepção de que todos nós também carregamos em nossa psique nossa contraparte sexual, e nelas estão encerradas as qualidades inerentes ao sexo oposto, mas que não são conscientes. Jung percebeu também que conforme os traços psicológicos de cada indivíduo, as tendências do sexo oposto vão sendo reprimidos e se acumulando no inconsciente.
Anima e animus foram então definidos para designar essas partes reprimidas do sexo oposto em nossa psique. Sendo a anima a contraparte feminina da psique do homem e animus a contraparte masculina na psique da mulher.
Jung (o eu e o inconsciente) diz que a anima, sendo feminina, é a figura que compensa a consciência masculina. Na mulher, a figura compensadora é de caráter masculino e pode ser designada pelo nome de animus.
As palavras anima e animus vêm do latim animare, que significa animar, avivar. Pois tanto a anima quanto o animus se assemelham a espíritos e alma vivificadores para homens e mulheres.
Entramos em contato com a anima e animus com a projeção sobre uma pessoa do sexo oposto. São eles os responsáveis pela paixão súbita e a sensação de destino que isso acarreta. Por essa razão, o ato de se apaixonar é tão vivificante para as pessoas.
A anima está ligada à emotividade e a capacidade para proximidade e receptividade do homem. Já o animus está ligado às convicções, opiniões e princípios da mulher. Ela é responsável pelo Eros e ele pelo Logos.
Anima e animus precisam ser desenvolvidos, pois eles são personificações o inconsciente. E quando afloram à consciência suscitam no homem e mulher qualidades irritantes e desagradáveis. Não que o inconsciente tenha essas características, mas quando eles começam a influenciar a consciência se apresentam ainda como uma personalidade parcial e ainda não refinada e primitiva. O animus se apresenta como um homem inferior e primitivo, e a anima como uma mulher inferior.
Assim como a sombra eles precisam ser compreendidos, reconhecidos e integrados.
No homem a anima suscita caprichos ilógicos e humores intoxicantes. Ele se torna hiper sensível.
O animus negativo na mulher suscita opiniões ilógicas. Ela se torna arrogante e prepotente, mesmo que ela não queira transparecer isso. Ela fica cheia de opiniões insensatas e obstinadas. Suas opiniões não exprimem o essencial, só conceitos vazios e destituídos de sentido. É como se estivesse tomada por um juiz arbitrário, e tentar convencê-la de que suas opiniões não possuem fundamento é apenas dar murro em ponta de faca.
No entanto, esses aspectos psíquicos precisam ser desenvolvidos. Eles precisam se tornar guias interiores para o desenvolvimento psíquico do ego humano.
Esse outro interior, esse “não eu”, simboliza a nossa alma, aquilo que de mais profundo temos em nós, por isso são tão inspiradores. Essas imagens internas precisam ser integradas e compreendidas, a fim e que se tornem parceiros invisíveis e apoiadores de nossa jornada e não
O animus quando se apropria de uma mulher, age como um demônio e a anima ao se apropriar do homem se comporta como uma bruxa manipuladora, ou como uma sereia sedutora, mas destruidora.
O animus destrói os relacionamentos e os valores do Eros. A anima destrói a auto-estima do homem, sua virilidade, objetividade e poder de decisão. Ele se torna extremamente sensível e perturbado.
Essas más disposições podem levar o homem a vícios, como alcoolismo e drogas, ou a depressão profunda. E em casos mais graves ao suicídio.
Isso acontece devido à falta de percepção e desvalorização do homem em relação ao feminino, e do desconhecimento da mulher do seu lado masculino. Atualmente observo também, uma supervalorização do aspecto masculino que leva a mulher a uma identificação igualmente perigosa com ele.
Uma das formas de conhecer a anima e o animus para que eles possam se desenvolver é através do relacionamento com a mulher e o homem reais.
O relacionamento com pessoas reais podem apontar essas disposições negativas, como os humores opressivos do homem e a falta de calor e afeto da mulher.
A mulher interior e o homem interior podem mostrar que não estão gostando da forma como o homem e a mulher estão levando suas vidas. Eles podem estar sendo lesados e assim as pessoas se distanciam de sua alma.
Ambos precisam de manifestação, precisam se manifestar na vida humana. E a única maneira de isso acontecer é por meio do tipo de vida do homem e da mulher exterior.
Portanto anima e animus podem mudar completamente o rumo de nossas vidas. Se nos dispusermos a escutá-los e nos abrirmos a esses ensinamentos, podemos ter uma vida mais plena de sentido.
Hellen Reis Mourão é analista Junguiana e especialista em Mitologia e Contos de Fadas. Atua como psicoterapeuta, professora e palestrante de Psicologia Analítica em SP e R
“A anima, sendo feminina, é a figura que compensa a consciência masculina. Na mulher, a figura compensadora é de caráter masculino e pode ser designada pelo nome de animus. Se não é simples expor o que se deve entender por anima, é quase insuperável a dificuldade de tentar descrever a psicologia do animus.”
Apesar da anima e do animus fazerem parte da personalidade eles são dois arquétipos, que possuem suas raízes no inconsciente coletivo.
Em se tratando do animus, pode-se afirmar então que se trata da personificação do inconsciente feminino, representando a imagem coletiva que a mulher tem do homem.
Uma forma de reconhecer a manifestação do animus no comportamento da mulher é por meio de uma convicção secreta e sagrada e por meio de opiniões.
Sobre isso, Carl Jung discorre em sua obra O eu e o inconsciente:
“As opiniões do animus apresentam muitas vezes o caráter de sólidas convicções, difíceis de comover, ou de princípios cuja validez é aparentemente intangível. Se analisarmos, porém, tais opiniões, logo depararemos com pressupostos inconscientes que deveriam ser provados, de início; em outras palavras, as opiniões foram concebidas como se tais pressupostos existissem. Na realidade, essas opiniões são totalmente irrefletidas; existem prontinhas e são mantidas com tal firmeza e convicção pela mulher que as formula, como se esta jamais tivesse tido a menor sombra de dúvida a respeito.”
Outra característica do animus, que difere da anima, é se apresentar como uma pluralidade de pessoas.
Geralmente o animus vai aparecer nos sonhos femininos como um grupo de homens, ou como um tribunal. Isso significa que o animus possui um caráter mais coletivo e impessoal, diferentemente da anima que impele o homem ao que é pessoal e à intimidade. Por isso é comum, em mulheres quando dominadas pelo animus, falarem de forma geral, criando generalizações (principalmente em relação aos homens) descabidas.
Outra forma de manifestação do animus é por meio da escolha amorosa. É o animus que provoca as paixões nas mulheres, por meio da projeção. Ela irá se sentir atraída justamente por aquele homem que corresponda a sua masculinidade inconsciente e que irá acolher essa projeção.
Uma das funções do animus é a de psicopompo.
Psicopompo é uma palavra que tem origem no grego psychopompós, junção de psyché (alma) e pompós (guia) e designa um ente cuja função é guiar ou conduzir a percepção de um ser humano entre dois ou mais eventos significantes.
Portanto, a sua função, da mesma forma que a anima, é a de se tornar uma ponte entre o ego feminino e o Self.
Outra função do animus, semelhante a anima, é a compensatória.
Para exemplificar em Animus e Anima, Emma Jung diz:
“Ele entende aí um complexo funcional que se comporta de forma compensatória em relação à personalidade externa, de certo modo uma personalidade interna que apresenta aquelas propriedades que faltam à personalidade externa, consciente e manifesta. São características femininas no homem e masculinas na mulher que normalmente estão sempre presentes em determinada medida, mas que são incômodas para a adaptação externa ou para o ideal existente, não encontrando espaço algum no ser voltado para o exterior.”
Um dos riscos de qualquer componente psíquico é o da possessão. E isso não é diferente com o animus, que por sua vez pode sobrepujar a consciência da mulher e dominar o seu ego.
Essa problemática gerada pela possessão do animus é pouco explorada na literatura por Carl Jung. Esse conceito foi bem desenvolvido posteriormente, por Emma Jung em sua obra Anima e Animus e também por Marie Louise Von Franz em seus estudos dos contos de fada. Esses estudos vão ser apresentados logo abaixo.
No momento que a mulher passa a ser “possuída” por seu animus ela irá apresentar um “problema de animus”. E quando isso ocorre à mulher ela se torna irritante para aqueles com quem convivem. Pois seu animus apresenta o caráter de um homem inferior o que a torna arrogante e prepotente, mesmo que ela não queira transparecer isso.
Em O mapa da alma, Murray Stein, diz:
“Por mais que ela possa querer ser receptiva e íntima, não consegue sê-lo porque o seu ego está sujeito a essas invasões de energias demolidoras que a transformam em tudo, menos na pessoa amável e gentil que gostaria de ser.”
Portanto, o animus leva a mulher a ter opiniões insensatas e obstinadas, ela fica cheia de lugares comuns. Suas opiniões não exprimem o essencial, só conceitos vazios e destituídos de sentido. É como se estivesse tomada por um juiz arbitrário, e tentar convencê-la de que suas opiniões não possuem fundamento é apenas dar murro em ponta de faca.
Outra característica do animus é que ele costuma levar a mulher a desvalorizar tudo o que provém do inconsciente, ocasionando uma vida consciente muito pobre, obrigando-a, assim, a viver de uma maneira bem abaixo de sua real capacidade.
Na verdade, nessa mulher, a arrogância e a humilhação irão se entrelaçar. Quanto mais humilhada, mais arrogante ela se tornará.
O animus muitas vezes ser representado como um arauto da morte tirando toda a vida produtiva da mulher e afastando-a da existência humana.
Aspecto do animus é muitas vezes é apresentado nos contos e nos mitos como o caçador e o guerreiro, ou seja, aquele que possui a propensão a matar. Ou seja, o animus pode matar a vida interior e produtiva da mulher.
Além disso, a mulher dominada pelo animus possui uma atitude jocosa e critica em relação aos homens, afastando qualquer possibilidade de relacionamento.
A falta de definição em seus propósitos mais importantes de vida também faz parte dessa problemática. A mulher nesse estado, mesmo sendo extremamente detalhista, quando confrontada a respeito de seus objetivos mais profundos simplesmente não consegue defini-los. Um estado de dormência a apodera e a intuição e projeção para o futuro não flui em sua psique. Ela está presa ao seu animus naquilo que não é essencial para a sua vida e seu desenvolvimento.
Von Franz, em O caminho dos sonhos exemplifica:
“O efeito da pressão do animus pode levar a mulher a uma feminilidade mais profunda, fazendo com que ela aceite o fato de que está possuída pelo animus e que empreenda algo a fim de trazer o seu animus para a realidade. Se ela lhe fornece um campo de ação — ou seja, se ela assume algum campo de estudo em especial ou faz algum trabalho masculino — isto pode mantê-lo. Ao mesmo tempo seu sentimento será revivificado e ela se voltará às atividades femininas.”
Não me refiro aqui à feminilidade estereotipada, até porque o feminino não se limita apenas a maternidade e a maternagem, mas a uma grandeza de sentimentos. Devido às oscilações hormonais, o feminino sempre possuiu uma sabedoria e uma compreensão do corpo que o masculino não compreende. A mulher sempre esteve em um contato maior com o irracional e com as emoções do que o homem.
Quando há esse reconhecimento e a mulher o deixa participar do seu mundo dando a possibilidade consciente de expressão na realidade, a possessão acaba e o animus pode tornar-se um companheiro interior precioso que vai contemplá-la com uma série de qualidades masculinas como a iniciativa, a coragem, objetividade e a sabedoria espiritual.
Em A interpretação dos contos de fada, Von Franz aponta uma saída para o confronto com o animus:
“Quando uma pessoa com uma consciência desenvolvida sente que o animus nela contido está pleno de uma atividade muito significativa, é inútil tentar fugir ou mesmo procurar compreender intelectualmente o seu significado. Ao invés disso, a pessoa deveria usar a energia proveniente do animus de uma maneira adequada, empreendendo alguma atividade masculina, tal como o trabalho intelectual criativo; se assim não for, a pessoa é dominada e possuída pelo animus.”
Ela se torna enfim flexível, suas opiniões não são mais absolutas. Ela compreende que não há certezas na vida, ela começa a questionar o que anteriormente ela tomava com verdade absoluta. Suas bases são abaladas.
É nesse momento que se torna apta a aceitar e a bancar a sua subjetividade sendo capaz de receber as manifestações do Self e acolhe-las, pois seu animus agora é capaz de auxiliá-la na compreensão dessas manifestações e do sentido de sua existência.
Referências Bibliograficas:
JUNG, C. G. O eu e o Inconsciente, 21 ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
______ Psicologia e religião, Petrópolis: Vozes, 1978.
JUNG, E. Animus e Anima, 5 ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
STEIN, M. O mapa da alma. 5 ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
VON FRANZ, M. L. A interpretação dos contos de fada. 5 ed. São Paulo: Paulus, 2005.
VON FRANZ, M. L; BOA, F. O caminho dos sonhos. São Paulo: Cultrix, 1988.
Leia mais: https://www.fasdapsicanalise.com.br/animus/#ixzz44VL3aLuJ
Ver todos
